Saturday, November 18, 2006

Medicina, uma perspectiva católica, i.e., morram todos mas não vão ao médico, por amor de Deus...

Na minha visita ouvi a história mais arrepiante... Algo que nunca sonhei ouvir, e que demonstra bem como as pessoas continuam a ser manipuladas por gente que não tem qualquer interesse no bem estar da população, e que, se calhar, explica como é que um Primeiro Ministro que é eleito com mais de 60% dos votos pode ser forçado a demitir-se por uma minoria ridícula só porque é muçulmano, é acusado de ser comunista, e os pais não nasceram em Timor...

Basicamente, enquanto visitávamos o complexo do Hospital Nacional Guido Valadares, onde não convém ir a não ser em último caso... sobretudo porque as possibilidades de apanhar algo contagioso e grave são mais elevadas do que as de sair de lá curado... contaram-me o que se está a passar com os médicos cubanos.

Recapitulando um pouco a história, para quem não a conhece, o ex-Primeiro Ministro, Mari Alkatiri, perante um país a morrer de doenças e sem médicos, lançou um apelo internacional a pedir ajuda médica, parece que o único país que apresentou uma proposta de jeito foi Cuba, que ofereceu 500 médicos, e mais uma porrada de vagas (ouvi falar em 200) nas faculdades de medicina cubanas de borla (apesar de Timor ter milhões do petróleo e Cuba pouco ter). Mari Alkatiri, como pragmático que é, aceitou como é óbvio a oferta e mandou vir os médicos.

Acontece que os desgraçados dos médicos cubanos, recentemente, depararam-se com a seguinte situação: a Igreja Católica (ao seu melhor estilo de “preocupação com a saúde dos fiéis”), começou a incitar a população contra os “médicos comunistas”, e a dizer às pessoas para não irem aos médicos, que mais valia estarem doentes. O resultado é simples, hoje em dia os médicos da cooperação portuguesa (que só deviam estar em Dili), sentem-se na obrigação de se deslocarem aos Distritos nos tempos livres para curarem pessoas que estão a morrer e se recusam de ir aos médicos cubanos! E os médicos cubanos têm as portas abertas todos os dias, e ninguém os procura...

Como se está idiotice não bastasse, enquanto estive em Timor, assisti a uma coisa ainda mais extraordinária: os bispos e a população a pedirem o regresso a casa dos estudantes de medicina, porque estavam com medo que eles fossem “contagiados pelo sistema político” cubano, já que não sabiam se os coitadinhos lá iam à missa ou não! Pior do que isto, num país a precisar de dinheiro, ajuda, MÉDICOS, apoio, o Sr. Bispo de Dili cravou uma viagem a Cuba ao governo para ir ver da “saúde espiritual” dos estudantes de medicina!

Meus senhores, TENHAM VERGONHA!!!

Deixo-vos com alguns “cartoons” de um site brilhante de quem já passou por Timor, http://timorcartoon.blogspot.com/, e com um comentário de um leitor ao cartoon do Alkatiri: “Num país sem sistema de saúde, 500 médicos poderiam fazer a diferença. Até mesmo em Portugal ou na Austrália, 500 médicos valeriam ouro. Mas a palavra "cubano" é afinal um palavrão que incomoda muita gente...”

É a mais pura das verdades... só espero que, se Deus existe, tenha reservado muito espaço no inferno para os Senhores da Igreja Católica de Timor...

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