Thursday, November 16, 2006

Continuação de negociações e festa!

A manhã começou cedo, e bem... mais uma corrida até ao Ministério para nos encontrarmos com a nossa interlocutora, para confirmarmos se as alterações negociadas de véspera, à luz de lanterna (que romântico) tinham sido bem introduzidas ou não! Depois de sermos recebidos pela desgraçada que confessou ter passado a noite toda a introduzir alterações (não deve ser fácil para uma norueguesa introduzir alterações num documento em português...), decidi assustá-la mais um pouco... “ah e tal... já agora, não referi uns erros ontem que penso que devem ser corrigidos”. Até tive pena dela... se vissem a cara com que ficou... Confesso que não foi maldade, mas estratégia pura. É que na véspera, se tivesse ousado propor mais uma alteração que fosse, teria sido chacinado! Assim sendo, nada como tentar introduzir mais umas alteraçõezitas à última da hora... que, por acaso, resultou!!!

Ao fim de 2 horas a rever e alterar o documento, a nossa amiga lá foi a correr para a Xerox (único sítio onde se conseguem impressões, encadernações, etc.) para tentar imprimir as cópias do contrato que iria ser assinado da parte da tarde, antes que faltasse a luz na cidade e não houvesse assinatura para ninguém! A assinatura em si correu sem percalços de maior, caneta para aqui, caneta para ali, assinatura, aperto de mão, fotografia, sorrisos. “Ai e tal até logo!!! Vemo-nos na recepção oficial...” Pelo meio ainda houve tempo para troca de piadas com o Ministro, do género: “Ah, então foi você que destruiu o contrato de uma ponta à outra e obrigou a malta a trabalhar à luz da lanterna...” O Ministro pareceu-me boa pessoa, bem disposto, competente, dedicado. Curiosamente, também cresceu na Austrália, onde tirou o curso de direito e exerceu até regressar a Timor para integrar o governo, começando por cargos mais baixos até chegar a Ministro. Se alguém tem dúvidas, ainda há quem exerça cargos políticos por dedicação ao povo!

Da parte da tarde ainda tive oportunidade de encontrar-me com um Australiano que trabalha para o Ministério das Finanças para esclarecer umas dúvidas de direito fiscal. De fato, só não se faz mais por Timor porque faltam os meios... O meu interlocutor não só recebeu-me no gabinete, como esclareceu todas as dúvidas que tinha, enviou-me algumas leis por internet, e ficou de me arranjar fotocópias das outras... mal aparecesse um funcionário que tratasse do assunto...
À noite, nova oportunidade de conviver com as pessoas que mais me devem odiar neste momento (os três desgraçados que trabalharam à luz de lanterna na véspera)! Agora a sério, é gente boa, de fácil trato, que me recebeu como se me conhecesse há anos! Também ajudou o facto de os erros de tradução que nós detectámos na versão portuguesa do contrato serem tão ridículos, que foram alvo de piadas a noite toda por parte de quem sabia a história! E algo me diz que naquela noite a história se espalhou por Dili... Para terem uma ideia, uma das pérolas da tradução consistia na tradução de “automotive equipment” para “equipamento automóvel”, e não “automotivo”... pode parecer um erro de menor importância... a não ser o facto de se tratar de material que está a milhas da costa, a flutuar em cima de uma plataforma petrolífera... se calhar um carro faz falta... quem sabe! Ah... e também há aquela de “welfare” no sentido de “bem-estar” ter sido traduzido para “segurança social”... já para não falar nos termos próprios da indústria petrolífera em que não conseguiram acertar num... enfim, um completo desastre!

A noite em si foi agradável. Conheci todos os representantes das empresas que estão a operar em Timor neste momento, falei, sorri, distribui cartões (parecia um daqueles gajos das mesas de jogos de Las Vegas... quem quer mais uma carta...), e ainda tive oportunidade de trocar umas palavras com o Prémio Nóbel / Primeiro Ministro Ramos Horta. O Ministro dos Recursos Naturais provou, mais uma vez, ser uma pessoa fabulosa! Trocámos piadas, rimos da desgraçada da tradução, falámos da Austrália, de conhecidos comuns (ele trabalhou com um colega meu de escritório nas negociações sobre o mar territorial com a Austrália), e acabámos a noite com ele a convidar-me para visitá-lo no dia seguinte no Ministério. Portanto, a coisa correu bem.

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