Friday, November 17, 2006

Dili by night

Tinha combinado com um dos nossos contactos em Timor encontrar-me com ela para jantar na sexta feira. Depois de um dia mais tranquilo do que os anteriores, sentia-me completamente estafado (é a chamada ressaca do stress), sem vontade de jantar, sem vontade de sair... mas, que se lixe! A curiosidade de conhecer sítios novos é sempre maior.
Embora já tivesse estado com a Filipa por duas vezes aquando da passagem dela pelo escritório de Lisboa para cumprimentar velhos amigos (ela trabalhou connosco antes de ir para Timor), a verdade é que à primeira vista, ela não me conheceu... deve ser do calor... Portanto, o programa começou bem... e melhorou logo a seguir quando ela referiu que íamos jantar com um grupo de amigos! Aqueles que me conhecem bem já devem estar a imaginar a minha veia anti-social a vir ao de cima... cansado, sem pachorra, pessoas novas... que mais é que a noite me podia reservar???
Só para provar que tenho de perder o mau feitio, a verdade é que a noite foi bem interessante e divertida, já para não falar nas surpresas. Pois é, parece que a tal Joana que eu tinha estado a desenrascar no bar do Hotel Timor trabalha com a Filipa, e estava no jantar, juntamente com o pai (o tal que tinha vindo em 1999 e não tinha regressado) e o resto da “família”, que não cheguei a perceber se o era de sangue, ou se era uma daquelas “famílias” que as pessoas formam quando estão longe de casa e que, muitas vezes, dão origem a grandes amizades que nunca se perdem, enfim, verdadeiras Famílias baseadas na cumplicidade que advém da partilha de experiências únicas! Outra surpresa muito agradável foi o restaurante, que tinha óptimo ambiente, uma decoração agradável, e que poderia ter sido retirado de um qualquer bairro de Lisboa, incluindo as velas. Estas últimas foram de pouca dura já que alguém fez questão de lembrar a empregada que jantar à luz das velas em Dili não era novidade, e que queriam aproveitar hoje que havia electricidade para jantarem à luz... das lâmpadas! De vez em quando convém variar...
A companhia não podia ter sido melhor. À volta da mesa estavam pessoas que tinham (na sua esmagadora maioria) vários anos de Timor debaixo do cinto, daquelas pessoas que se recusaram a ser evacuados quando a comunidade internacional entrou em histeria, daquelas pessoas que te podem contar tudo o que interessa saber sobre tudo. O jantar foi passado a beber informação de todos eles, fazendo perguntas e esclarecendo dúvidas. O mais curioso de tudo foi descobrir que a maior parte do que sai cá para fora é mentira, meros boatos, exageros, alimentados pela máquina dos media! Aliás, dois dos meus comparsas explicaram-me que, durante os momentos mais tensos da crise, as embaixadas e as pessoas em geral enviavam mensagens escritas umas para as outras com informações sobre os perigos, conflitos, e zonas a evitar. Os dois amigos, como não acreditavam em metade do que ouviam, mal recebiam uma mensagem pegavam no jipe e iam investigar. Maravilha das maravilhas, na maior parte dos casos não passavam de boatos sem fundo de verdade. Então tiveram a ideia de começar uma campanha de contra-informação, primeiro através de mensagens a desmentir os boatos, depois através de um blog que se tornou um caso de sucesso, e um meio de comunicar com o mundo exterior e espalhar a verdade. O http://timor-online.blogspot.com continua a existir, é uma fonte interessantíssima de informação, e desconfortável para muitos –o que já levou a ameaças de morte contra os seus autores. Enfim, uma coisa eu descobri, em Timor, quem ousa opor-se à Igreja é inimigo. Quem ousa dizer que, se calhar, o Mari Alkatiri até era um bom primeiro ministro é inimigo. Não interessa que ele tivesse sido democraticamente eleito pela esmagadora maioria da população, não interessa que a Fretilin venha, ao que tudo indica, a ganhar (de forma novamente esmagadora) as próximas eleições. Parece que há uma minoria que não entendeu bem o que é democracia... aguardemos pelas cenas do próximo capítulo...
Depois do jantar acabámos na praia da areia fina, numa festa de anos de alguém que me foi apresentado como sendo o Nuno. Parece que é hábito em Timor a malta juntar-se na praia, pagar aos donos das barracas de apoio aos banhistas para manterem o estaminé aberto à noite, e organizarem festas. O princípio é, cada um traz uma garrafa, todos partilham, alguém põe música. Pessoalmente achei o ambiente fabuloso! Pessoas de todas as nacionalidades, de todas as organizações possíveis e imaginárias. Também me disseram que tive sorte... parece que apanhei a melhor festa do ano inteiro em Dili! Afinal valeu a pena sair!
A noite acabou no “Carlos” um restaurante que, à noite, se transforma em Disco... aí perdi a pachorra... já não aguentou música de martelos! O ambiente, curiosamente, fez-me lembrar o “Palos” em Luanda... ou seja, uns expats, uns locais, uns agarrados a umas, e umas agarradas a uns... viva a comunidade das nações! Ah, também não me posso esquecer de mencionar que deparei-me com duas espécies conhecidas de fauna “local”... os GNRs e as professoras da cooperação portuguesa... parece que já é tradição estes dois espécimes acasalarem ao som de música pimba brasileira... enfim, verdadeiramente triste! E parece que eu não vi nada, já que o ritual era mais comum e “activo” antes da embaixada portuguesa ter sentido a necessidade de chamar a fauna e dizer “Oh meus amigos... não havia nexexidade!!!”
De qualquer das formas não deixa de ser curioso que a “nossa” GNR pareça estar em Dili de férias. É verdade que têm feito um bom trabalho, mas a mim dá-me comichões ver os meninos nas discotecas e nas praias a curtir, enquanto os militares e polícias dos outros países, quando não estão de serviço, estão nos quartéis! Também me dá muita comichão ver as carrinhas e jipes a fazer excursões de copos e praia pela ilha, tudo pago com o dinheiro dos meus impostos! Enfim, são conceitos diferentes de profissionalismo!

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