Tuesday, November 28, 2006

Cidadão do mundo, vagabundo, apátrida... tudo depende da perspectiva!

Há uns dias acordava em Dili, o sol do Sudeste asiático a entrar pela janela, o “Cruzeiro do Sul”, velho companheiro de infância, brilhava no céu estrelado à noite, o fuso horário era GMT + 9... passado pouco tempo, acordava em Lisboa, deitado na minha cama, ao lado da Tânia, junto da minha família... GMT... Hoje acordei de manhã em Houston... GMT -6... Consegui enganar o tempo e o corpo enquanto estive em movimento... hoje acordei morto, parece que me espancaram, estou tão cansado que quase não me consigo levantar da cama... o segredo está em continuar a fugir... é como quando temos um grupo de capangas a correr atrás de nós para nos bater... não olhes para trás, corre, sempre em frente! É como quem sai na sexta-feira à noite para os copos... e só deixa de beber no Domingo à noite... tudo corre bem até Segunda de manhã!

Tantos sítios em tão pouco tempo, tão pouco tempo para conhecer o que quer que seja de tantos sítios. Não posso deixar de me sentir um vagabundo, um sem raízes... um cidadão do mundo! Qual será a diferença entre o vagabundo, o apátrida, o cidadão do mundo... para além da roupa que usam, daquilo a que se dedicam... esta viagem pôs-me a pensar... se calhar há mais semelhanças do que diferenças substanciais... será que todos eles não olham para trás de vez em quando e fazem as velhas perguntas metafísicas: “Quem sou eu? Para onde vou? Qual o meu propósito?”

Deixo-vos mais duas músicas “ambiente” para pensarem:

Desaparecido – Manu Chau

Me llaman el desaparecido
Que cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
Deprisa deprisa a rumbo perdido

Cuando me buscan nunca estoy
Cuando me encuentran yo no soy
El que est enfrente porque ya
Me fui corriendo mas all

Me dicen el desaparecido
Fantasma que nunca está
Me dicen el desagradecido
Pero esa no es la verdad
Yo llevo en el cuerpo un dolor
Que no me deja respirar
Llevo en el cuerpo una condena
Que siempre me echa a caminar

Me llaman el desaparecido
Que cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
Deprisa deprisa a rumbo perdido

Yo llevo en el cuerpo un motor
Que nunca dejade rolar
Yo llevo en el alma un camino
Destinado a nunca llegar

Me llaman el desaparecido
Cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
Deprisa deprisa a rumbo perdido

Perdido en el siglo... siglo XX... rumbo al XXI"

Já agora, quem se lembra desta??? Ainda cheira a mar, areia, noites de verão, cabelos compridos, Oeiras, Cascais, Algarve, outros tempos. Alguns já têm crianças, outros já têm juízo, outros... continuam sem tê-lo! De um modo geral não deixa de ser curioso que estamos todos ligeiramente diferentes, mas quando estamos juntos, continuamos mais ou menos iguais! Aqui fica uma homenagem para todos vós! Confesso que me surpreendi a mim mesmo quando, no meio da minha própria reflexão metafísica, encontrei esta lembrança que se enquadra tão bem no estado de espírito!

Too Much Too Young – Little Angels

“Breaking out of school and we were kicking hard.
A lot of good dreams and a lot of false starts.
Swore we wouldn't get old before our time.
So what's the matter boy are you wondering where it went?
The memory's better than it was back then,
you could not wait to leave it all behind.
But there is one thing I know
I ain't quite ready to go.
Too much, too young.
I won't do time when I've just begun
Too much, too young.
What about love, what of songs unsung?
Too much too young
I'll never go backward, I'll always go on...
I want more, give me, oh just a little bit more!
I don't want a house or a three piece suite-
Those thing dont matter to me,
I'm happy sleeping on your kitchen floor.
So if you ain't happy following my star.
lend me some money, give me your old car,
'cos you dont really need it anymore.
I've got some living to do,
and I ain't waiting for you.
Sometimes I wonder
If I'll ever live again
well I can tell you,
if I do, I'd make that change
I've got my share of regrets
but I ain't afraid to say
I've paid the price I have to pay.
Well once upon a time
"when we were so young"
well what were we then
lies tattered and torn,
well I guess that's just the way it goes
I've got to move on to the other side.
I can see this thing is a-hurting your pride
maybe I'll be back to say goodbye
- who knows!
Nobody stand in my way
I'll take tomorrow today.”

P.S. Só um aviso: não se preocupem, estou na boa! Parece que houve quem se tivesse assustado quando eu entrei em fase de reflexão depois de ter visto os veleiros a regressarem em Kemah... já que se fala em barcos, ofereço uma recordação especial quando regressar a quem adivinhar esta (letra e banda):

“Surfboards through the turnstiles
Speedboats on the bay
All around the seagulls scream
Children out to play
The ferry sits like a holiday
As the harbour heaves and sweats
Like the faded jeans and tubetops
On the manly nymphets
On the beach I'm called aparral
In the west I'm a fast young fool
In the church I'm irresponsible
In the clubs I'm called uncool

Well youth is my advantage
Anonymity my reward
While the world's being measured
For a uniform
It's my luxury to be ignored…”

Monday, November 27, 2006

Regresso aos Estados Unidos... Clandestino... ILEGAL!

Mais uma viagem sem grande interesse, sem ser o facto de ter tido de ir por NY desta vez e, novamente por causa da paranóia da segurança, ter perdido o avião de ligação para Houston! Em minha opinião, os terroristas estão a ganhar a guerra: o tão badalado “mundo livre”, se é que alguma vez o foi verdadeiramente, hoje em dia já não o é de certeza!
Confesso que tinha alguma curiosidade em saber qual seria a posição dos guardas da fronteira nos EUA, já que eu ainda não tenho visto e, pela segunda vez, ia entrar no país ao abrigo do “visa waiver program”. Curiosamente, não deram por nada, ou então não se preocuparam... o que quer dizer que continuo com um estatuto semelhante ao dos mexicanos... sinto-me tão honrado! Baseando-me na famosa canção do Sting... “I’m an alien, I’m an illegal alien, I’m a European in Houston...”

Já que estamos numa de música... cá ficam mais umas das minhas favoritas (como os desgraçados que tiveram de partilhar um gabinete comigo sabem de tanto terem ouvido...), que se aplicam perfeitamente à minha passagem pelos EUA até agora, desta vez, dos Manu Chau:

Bongo Bong

“…I went to the big town
Where there is a lot of sound
From the jungle to the city
Looking for a bigger crown
So I play my boogie
For the people of big city
But they don't go crazy
When I'm bangin' in my boogie…

They say that I'm a clown
Making too much dirty sound
They say there is no place for little monkey in this town
Nobody'd like to be in my place instead of me
Cause nobody go crazy when I'm bangin' on my boogie
I'm the king of the bongo, king of the bongo bong”

Clandestino

“Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazn
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel

Pa una ciudad del norte
Yo me fui a trabajar
Mi vida la dej
Entre Ceuta y Gibraltar
Soy una raya en el mar
Fantasma en la ciudad
Mi vida va prohibida
dice la autoridad

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Por no llevar papel
Perdido en el corazn
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Yo soy el quiebra ley

Mano Negra clandestina
Peruano clandestino
Africano clandestino
Marijuana ilegal

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazn
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel”

Tuesday, November 21, 2006

Surpresa!!!

O meu percurso de regresso a Houston incluiu uma passagem por... Lisboa! Pois é, a necessidade de renovar o meu passaporte (sob pena de não conseguir voltar a entrar nos EUA), conjugada com o facto de ser feriado (Thanksgiving) na quinta e na sexta-feira nos States, levou-me a pregar uma partida â Tânia!

Consegui aguentar o tempo todo sem lhe dizer nada e, no dia em que cheguei, o meu pai ligou-lhe a dizer que tinha uma encomenda minha e que ia levá-la lá a casa! Se vissem a cara dela quando a “encomenda” chegou!!!

Não há palavras para descrever a emoção de ver a Tânia e a Carolina depois de tanto tempo (pelo menos para mim foi) de solidão. A pequenina, para minha alegira conheceu-me logo, disse “papá!” e deu dois passos na minha direcção! Valeu a pena atravessar o mundo para ver o sorriso da Tânia e a felicidade da Carolina, duas imagens que guardarei sempre comigo!

Para matar saudades da Carolina e do que é ser pai, nada como a pequenina ter apanhado uma gastrenterite enquanto estive em Lisboa! Portanto, muita merda, noites mal dormidas, preocupações! Enfim, foi bem-feita! Assim ao menos pude ajudar a Tânia que, verdade seja dita, tem tido as mãos cheias para cuidar da terroristazinha sozinha este tempo todo! A Carolina está cada vez mais linda, mais traquina, e mais esperta... e começo a desconfiar que já sabe disso e que se aproveita!!!

Confesso que tinha esperança de ver todos os meus amigos na minha breve passagem por Lisboa, mas provou-se, mais uma vez, que continuo a ser um sonhador! Mal houve tempo para respirar... para os que não vi, fica a promessa que, em Dezembro, nos econtramos!

Entretanto, cheguei rapidamente à conclusão que dois meses nos EUA mudaram-me... Até fiquei com calores quando tive de enfrentar o trânsito de Lisboa! Não há nada como 5 minutos casa-trabalho, trabalho-casa! Acho que vou encomendar um helicóptero sempre que tiver de ir a Lisboa... já estou mal habituado!

Monday, November 20, 2006

18 - 20 de Novembro Dili – Bali – Singapura – Frankfurt – Lisboa!!!

Mais dois dias passados em aeroportos e aviões!!! Porra, já enjoa! O único dado dignos de registo foi o facto do avião se ter atrasado em Singapura e, consequentemente, ter perdido a ligação em Frankfurt.

Fora isso, só uns reparos: Bali consegue ter mais e melhor Duty Free que Lisboa; o aeroporto de Frankfurt, hoje em dia, consegue ter um serviço pior do que o de Luanda por causa da paranóia da segurança!

Pelo caminho, lembrei-me de um pormenor delicioso a que assisti num canal de televisão satélite em Dili. Estava a trabalhar uma noite no quarto de hotel (com uma sanduíche clube...), com a televisão ligada, quando começou a dar um programa qualquer sobre Macau num canal inglês. Qual o meu espanto quando o moço que está a relatar o programa não começa a falar na “Holy House of Mercy”!!! Confesso que chorei a rir!!! Tantos anos a gozar com traduções ranhosas de português para inglês, a inventar patetadas, para depois ver uma das patetadas favoritas a ser reproduzida em directo para a televisão internacional!!! O pá, essa tem direitos de autor!

Sunday, November 19, 2006

Adeus Timor! Até breve, ou até nunca mais, ou até quando der... as incertezas da vida...
Mais um dia com a trouxa às costas... mais uma passagem de fugida por um país sem a certeza de poder voltar... mais uma carrinha a caminho de um qualquer aeroporto, embora este não seja um país ou um aeroporto qualquer! Na viagem, mais uma passagem pelo mercado de Comoro (calmo como das outras vezes), mais umas cabras e uns porcos, mais timorenses com ar triste e cansado. À chegada ao aeroporto, um motivo para sorrir: quando chego ao controlo de segurança (se é que lhe podemos chamar isso), o polícia de serviço olhou para o meu passaporte, sorriu e disse “passaporte português! Passaporte diplomático! Tratamento VIP!”. Trocado por miúdos, o que isto significa é que não me revistaram as malas e deixaram-me entrar direitinho para o “check in”. Na sala de espera do aeroporto ainda tive oportunidade para me rir mais um bocadinho... assisti ao Benfica a levar 3 na pá do Braga!!! Eu e o Benfica temos várias histórias passadas em salas de espera de aeroportos manhosos: em Abril de 2004, assisti ao famoso jogo Estoril – Benfica (o famoso do Estádio do Algarve) em que o árbitro e o Estoril (liderado pelo ex-presidente do Benfica Manuel Damásio e recheado de jogadores do então dirigente benfiquista José Veiga) deram um jeitão aos vermelhinhos para eles poderem ganhar aquilo que eu chamo o “campeonato da vergonha” (mais vergonhoso só o do Boavista). Dessa vez, ri-me com a festa quando os Mantorras marcou os golo pá! Desta vez ri-me com os polícias do aeroporto que se sentaram todos de volta de mim para ver o jogo e iam trocando comentários comigo meio em português, meio em tetum. A certa altura, filmaram a cara do treinador do Benfica depois de um dos golos, e um dos polícias vira-se para mim e diz algo imperceptível (tetum) seguido de “é pá... cara do gajo... tá fodido!” Pois é... para além dos palavrões, dos sistemas administrativos todos lixados, da preguiça e tudo o mais, os desgraçados dos povos colonizados portugueses ainda herdaram uma maldição maior... o amor ao Benfica! Porra, não basta terem sido massacrados, serem pobres, não terem esperança, ainda por cima são do Benfica! Ou se calhar são do Benfica porque já se habituaram a não ter esperança... quem sabe, certo, certo, é que não têm salvação possível enquanto não mudarem de clube! Entretanto, nessa noite, depois de ter apanhado o meu fabuloso voo Merpati, parece que a violência regressou a Dili. Enquanto eu ia tranquilo a caminho da Europa, a violência fez a primeira vítima estrangeira. Não se sabe bem como, nem porquê, foi assassinado um missionário brasileiro... mal do povo que não sabe porque luta, contra quem luta, e que se esquece que os estrangeiros que lá estão, só lá estão para ajudar! Também, quando o próprio Presidente tem comentários inflamatórios e xenófobos nos jornais... quando se assiste a comentários contra os estrangeiros nos blogs da net... enfim!

Saturday, November 18, 2006

Medicina, uma perspectiva católica, i.e., morram todos mas não vão ao médico, por amor de Deus...

Na minha visita ouvi a história mais arrepiante... Algo que nunca sonhei ouvir, e que demonstra bem como as pessoas continuam a ser manipuladas por gente que não tem qualquer interesse no bem estar da população, e que, se calhar, explica como é que um Primeiro Ministro que é eleito com mais de 60% dos votos pode ser forçado a demitir-se por uma minoria ridícula só porque é muçulmano, é acusado de ser comunista, e os pais não nasceram em Timor...

Basicamente, enquanto visitávamos o complexo do Hospital Nacional Guido Valadares, onde não convém ir a não ser em último caso... sobretudo porque as possibilidades de apanhar algo contagioso e grave são mais elevadas do que as de sair de lá curado... contaram-me o que se está a passar com os médicos cubanos.

Recapitulando um pouco a história, para quem não a conhece, o ex-Primeiro Ministro, Mari Alkatiri, perante um país a morrer de doenças e sem médicos, lançou um apelo internacional a pedir ajuda médica, parece que o único país que apresentou uma proposta de jeito foi Cuba, que ofereceu 500 médicos, e mais uma porrada de vagas (ouvi falar em 200) nas faculdades de medicina cubanas de borla (apesar de Timor ter milhões do petróleo e Cuba pouco ter). Mari Alkatiri, como pragmático que é, aceitou como é óbvio a oferta e mandou vir os médicos.

Acontece que os desgraçados dos médicos cubanos, recentemente, depararam-se com a seguinte situação: a Igreja Católica (ao seu melhor estilo de “preocupação com a saúde dos fiéis”), começou a incitar a população contra os “médicos comunistas”, e a dizer às pessoas para não irem aos médicos, que mais valia estarem doentes. O resultado é simples, hoje em dia os médicos da cooperação portuguesa (que só deviam estar em Dili), sentem-se na obrigação de se deslocarem aos Distritos nos tempos livres para curarem pessoas que estão a morrer e se recusam de ir aos médicos cubanos! E os médicos cubanos têm as portas abertas todos os dias, e ninguém os procura...

Como se está idiotice não bastasse, enquanto estive em Timor, assisti a uma coisa ainda mais extraordinária: os bispos e a população a pedirem o regresso a casa dos estudantes de medicina, porque estavam com medo que eles fossem “contagiados pelo sistema político” cubano, já que não sabiam se os coitadinhos lá iam à missa ou não! Pior do que isto, num país a precisar de dinheiro, ajuda, MÉDICOS, apoio, o Sr. Bispo de Dili cravou uma viagem a Cuba ao governo para ir ver da “saúde espiritual” dos estudantes de medicina!

Meus senhores, TENHAM VERGONHA!!!

Deixo-vos com alguns “cartoons” de um site brilhante de quem já passou por Timor, http://timorcartoon.blogspot.com/, e com um comentário de um leitor ao cartoon do Alkatiri: “Num país sem sistema de saúde, 500 médicos poderiam fazer a diferença. Até mesmo em Portugal ou na Austrália, 500 médicos valeriam ouro. Mas a palavra "cubano" é afinal um palavrão que incomoda muita gente...”

É a mais pura das verdades... só espero que, se Deus existe, tenha reservado muito espaço no inferno para os Senhores da Igreja Católica de Timor...

Visita Guiada

Hoje acordei com a sensação que tudo ia ser diferente... Tinha combinado ir almoçar com dois ex-estagiários do escritório que, por variadas razões decidiram abandonar-nos e ir trabalhar para Timor. Como são duas pessoas que conheço relativamente bem, sabia que ia ser um dia bem passado e, pelo menos por uma vez, iria ter oportunidade de falar mais à vontade com quem por cá vive e, quem sabe, ver um pouco da ilha.

À hora combinada lá apareceram os meus “guias”, que me levaram a almoçar a uma praia perdida para lá do famigerado mercado de Comoro (cenário dalguns dos piores conflitos dos últimos tempos) onde existe um pseudo-hotel de nome “Ocean View Hotel”. Quanto ao mercado de Comoro, como poderão ver pela foto, não passa de uma estrada com bancas de venda de fruta, legumes, etc., dos dois lados. Das vezes que por lá passei não havia sinais de conflito, só gente idosa, com ar cansado e triste, a fazer pela vida na venda.

Quanto ao “Ocean View”, não passa de um edifício que tem um alpendre no rés-do-chão onde funciona um restaurantezeco muito simples, mas que acabou por fazer umas boas gambas grelhadas, e uma óptima banana frita com gelado (não consegui conter-me...). A melhor parte do “Ocean View” é exactamente, a vista do oceano. O “hotel” fica em cima de uma praia completamente deserta, com vista para o ilhéu de Atauro. A única companhia que o hotel tem são as palmeiras, um barco abandonado na areia, e os porcos e cabras (que andam por todo o lado). A almoçar naquele Sábado, apenas nós os três e dois funcionários da ONU que, pela conversa, deviam ser mais ou menos clientes habituais. De resto, tanto o “hotel” como o restaurante estavam às moscas... um país com tanto potencial turístico, e sem infra-estruturas absolutamente nenhumas... desperdício.

A seguir ao almoço, os meus companheiros levaram-me a dar uma volta a Dili e arredores (não muito longe porque não têm jipe e as estradas do interior são más). Fiquei com uma impressão geral de que, de facto, Timor tem um potencial enorme por explorar. Paisagens de postal, nada construído a estragar a paisagem... só espero que quando o desenvolvimento chegar (e tem de chegar mais cedo ou mais tarde), se construa com cabeça e se aproveite a beleza natural... a última coisa que esta gente precisa é de herdar outra pérola portuguesa como a “arquitectura” e conceito de desenvolvimento algarvio...

Em Dili, tive a oportunidade de visitar o cemitério de Santa Cruz (palco do famoso massacre de 1991 que abriu os olhos da comunidade internacional para Timor). Não há palavras para descrever o cenário. As campas estão amontoadas umas em cima das outras, quase que não há espaço para circular, dá para imaginar a aflição daquela gente quando se aperceberam que tinham entrado numa cilada, que iam ser massacrados, e que não tinham para onde fugir, nem onde se esconder...

Alguns bairros perto do cemitério foram alvo dos piores ataques durante os conflitos recentes. Nem respeito pela proximidade do que se tornou num dos símbolos de unidade durante os tempos da resistência pesou na consciência daquela gente... enfim. As casas continuam queimadas, os sinais de destruição bem evidentes... as pessoas recusam-se a regressar, têm medo, viveram o terror durante a ocupação, viveram o terror após o referendo, e agora viveram o terror de ver os conterrâneos, os vizinhos, queimarem-lhes as casas e tentarem matá-los... as pessoas têm medo, não querem regressar, é o instinto de sobrevivência a falar mais alto... compreende-se!

Também visitámos o mercado dos Tais (panos típicos timorenses), onde aproveitei para aprender como é que são feitos, e para comprar umas recordações. A foto não é minha, mas os meus companheiros certamente perdoarão o furto...

Mais para o lado, praias desertas, o “Cristo Rei”, construído durante a ocupação indonésia... pelos indonésios... estranho! A verdade é que parece que os timorense, tão religiosos que são, não ligam muito ao senhor de braços abertos... há coisas que não se esquecem, e os anos da ocupação ainda estão demasiado frescos na memória. Pelo caminho, dois “símbolos nacionais”, um porco “gigante” (andam por toda a parte e até metem medo, como podem ver pela foto), e a casa do agora Primeiro Ministro Ramos Horta, um belo complexo construído segundo a arquitectura tradicional da ilha... não se assustem, não é resultado de corrupção, parece que já pertencia aos pais dele há muitos anos. Também no percurso, tivemos oportunidade de assistir ao único acto de violência enquanto estive em Timor: uma cabra saltou dum descampado ao lado da estrada e enfiou uma cornada na porta dum taxi que ia à nossa frente!!! Devia ser uma cabra loromono a atacar um taxista lorosae... ou qualquer merda do género...









Friday, November 17, 2006

Dili by night

Tinha combinado com um dos nossos contactos em Timor encontrar-me com ela para jantar na sexta feira. Depois de um dia mais tranquilo do que os anteriores, sentia-me completamente estafado (é a chamada ressaca do stress), sem vontade de jantar, sem vontade de sair... mas, que se lixe! A curiosidade de conhecer sítios novos é sempre maior.
Embora já tivesse estado com a Filipa por duas vezes aquando da passagem dela pelo escritório de Lisboa para cumprimentar velhos amigos (ela trabalhou connosco antes de ir para Timor), a verdade é que à primeira vista, ela não me conheceu... deve ser do calor... Portanto, o programa começou bem... e melhorou logo a seguir quando ela referiu que íamos jantar com um grupo de amigos! Aqueles que me conhecem bem já devem estar a imaginar a minha veia anti-social a vir ao de cima... cansado, sem pachorra, pessoas novas... que mais é que a noite me podia reservar???
Só para provar que tenho de perder o mau feitio, a verdade é que a noite foi bem interessante e divertida, já para não falar nas surpresas. Pois é, parece que a tal Joana que eu tinha estado a desenrascar no bar do Hotel Timor trabalha com a Filipa, e estava no jantar, juntamente com o pai (o tal que tinha vindo em 1999 e não tinha regressado) e o resto da “família”, que não cheguei a perceber se o era de sangue, ou se era uma daquelas “famílias” que as pessoas formam quando estão longe de casa e que, muitas vezes, dão origem a grandes amizades que nunca se perdem, enfim, verdadeiras Famílias baseadas na cumplicidade que advém da partilha de experiências únicas! Outra surpresa muito agradável foi o restaurante, que tinha óptimo ambiente, uma decoração agradável, e que poderia ter sido retirado de um qualquer bairro de Lisboa, incluindo as velas. Estas últimas foram de pouca dura já que alguém fez questão de lembrar a empregada que jantar à luz das velas em Dili não era novidade, e que queriam aproveitar hoje que havia electricidade para jantarem à luz... das lâmpadas! De vez em quando convém variar...
A companhia não podia ter sido melhor. À volta da mesa estavam pessoas que tinham (na sua esmagadora maioria) vários anos de Timor debaixo do cinto, daquelas pessoas que se recusaram a ser evacuados quando a comunidade internacional entrou em histeria, daquelas pessoas que te podem contar tudo o que interessa saber sobre tudo. O jantar foi passado a beber informação de todos eles, fazendo perguntas e esclarecendo dúvidas. O mais curioso de tudo foi descobrir que a maior parte do que sai cá para fora é mentira, meros boatos, exageros, alimentados pela máquina dos media! Aliás, dois dos meus comparsas explicaram-me que, durante os momentos mais tensos da crise, as embaixadas e as pessoas em geral enviavam mensagens escritas umas para as outras com informações sobre os perigos, conflitos, e zonas a evitar. Os dois amigos, como não acreditavam em metade do que ouviam, mal recebiam uma mensagem pegavam no jipe e iam investigar. Maravilha das maravilhas, na maior parte dos casos não passavam de boatos sem fundo de verdade. Então tiveram a ideia de começar uma campanha de contra-informação, primeiro através de mensagens a desmentir os boatos, depois através de um blog que se tornou um caso de sucesso, e um meio de comunicar com o mundo exterior e espalhar a verdade. O http://timor-online.blogspot.com continua a existir, é uma fonte interessantíssima de informação, e desconfortável para muitos –o que já levou a ameaças de morte contra os seus autores. Enfim, uma coisa eu descobri, em Timor, quem ousa opor-se à Igreja é inimigo. Quem ousa dizer que, se calhar, o Mari Alkatiri até era um bom primeiro ministro é inimigo. Não interessa que ele tivesse sido democraticamente eleito pela esmagadora maioria da população, não interessa que a Fretilin venha, ao que tudo indica, a ganhar (de forma novamente esmagadora) as próximas eleições. Parece que há uma minoria que não entendeu bem o que é democracia... aguardemos pelas cenas do próximo capítulo...
Depois do jantar acabámos na praia da areia fina, numa festa de anos de alguém que me foi apresentado como sendo o Nuno. Parece que é hábito em Timor a malta juntar-se na praia, pagar aos donos das barracas de apoio aos banhistas para manterem o estaminé aberto à noite, e organizarem festas. O princípio é, cada um traz uma garrafa, todos partilham, alguém põe música. Pessoalmente achei o ambiente fabuloso! Pessoas de todas as nacionalidades, de todas as organizações possíveis e imaginárias. Também me disseram que tive sorte... parece que apanhei a melhor festa do ano inteiro em Dili! Afinal valeu a pena sair!
A noite acabou no “Carlos” um restaurante que, à noite, se transforma em Disco... aí perdi a pachorra... já não aguentou música de martelos! O ambiente, curiosamente, fez-me lembrar o “Palos” em Luanda... ou seja, uns expats, uns locais, uns agarrados a umas, e umas agarradas a uns... viva a comunidade das nações! Ah, também não me posso esquecer de mencionar que deparei-me com duas espécies conhecidas de fauna “local”... os GNRs e as professoras da cooperação portuguesa... parece que já é tradição estes dois espécimes acasalarem ao som de música pimba brasileira... enfim, verdadeiramente triste! E parece que eu não vi nada, já que o ritual era mais comum e “activo” antes da embaixada portuguesa ter sentido a necessidade de chamar a fauna e dizer “Oh meus amigos... não havia nexexidade!!!”
De qualquer das formas não deixa de ser curioso que a “nossa” GNR pareça estar em Dili de férias. É verdade que têm feito um bom trabalho, mas a mim dá-me comichões ver os meninos nas discotecas e nas praias a curtir, enquanto os militares e polícias dos outros países, quando não estão de serviço, estão nos quartéis! Também me dá muita comichão ver as carrinhas e jipes a fazer excursões de copos e praia pela ilha, tudo pago com o dinheiro dos meus impostos! Enfim, são conceitos diferentes de profissionalismo!
Café no Hotel Timor... bombas em Beirute!

Depois destas aventuras, dei comigo no bar do Hotel Timor, a beber um café com um puto (22 anos) que serve de faz-tudo para as empresas que querem estabelecer-se em Timor. O Salal é um gajo nascido na Palestina, de pais Libaneses, que está em Timor ao serviço de uma empresa Holandesa dum tio que presta apoio local a empresas. Basicamente, é o desenrasca... arranja reuniões, assegura transporte e alojamento, etc., e deve cobrar um balúrdio. Enfim, a lei da oferta e da procura no seu melhor.

O Salal está satisfeito em Timor, embora confesse que de vez em quando convém fugir para outro sítio para desanuviar (a ilha é demasiado pequena, e não tem muito para fazer). Apesar de tudo, o tipo foi um bom barómetro para sondar o ambiente local. O gajo diz que não se sente inseguro, mesmo com os ambientes tensos que às vezes surgem. Aliás, ele já foi alvo de duas situações curiosas: a primeira, deu-se quando foi evacuado aquando da altura dos conflitos mais lixados no verão, e decidiu ir visitar a família ao Líbano... nas palavras dele “estava eu muito bem em Dili, obrigam-me a fugir. Vou para o Líbano, passo um mês a levar com bombas nos cornos!” Como dizem os anglo-saxónicos “out of the frying pan... and into the fire!!!”
A meio da conversa surge a Joana, miúda acabada de sair da Faculdade de Direito cujo pai vive em Timor desde o referendo em 1999. A história dela também não deixa de ser curiosa: veio no verão para visitar o pai, ofereceram-lhe trabalho, ela gostou do sítio e ficou! O pai é que se passou... mas já lhe passou! Ao menos a miúda tem dois dedos de testa e, ao contrário de muita gente que anda por Timor a fazer asneira em nome do Estado Timorense, quando lhe pediram para preparar uma lei complicada, ela disse que não tinha experiência suficiente, e sugeriu que contratassem ajuda especializada!!! Se todas as pessoas que estão em Timor a “mamar” à custa da ONU e do Estado Timorense fossem tão honestas como a Joana, ter-se-iam evitado muitos dos disparates legislativos que já foram cometidos... e os que de futuro se vão cometer. Eu não duvido que muitas das pessoas que por cá andam sejam bem intencionadas... o problema é que é preciso ter noção das nossas limitações e, por vezes, não dá! É preciso coragem para saber dizer “não sei”... mas também, quem diz não sei não consegue justificar o ordenado “simpático” que recebe todos os meses... por isso, mais vale salvar a pele e fazer asneira... quando a bomba rebentar, quando os problemas surgirem, eles também já não estão em Timor...

Thursday, November 16, 2006

Mais contactos, mais trabalho e... 1 dólar!

Para não pensarem que tudo na vida é festa, na sexta de manhã comecei por dedicar-me ao trabalho! Sim... não fosse eu desabituar-me por causa de umas horitas de cocktail...

Basicamente, fui despedir-me dos representantes do nosso cliente, que empreenderam a sua magnífica viagem de regresso a Mumbai (Bombaim), capital financeira da Índia, e depois dediquei-me, em primeiro lugar, a despachar trabalho que tinha pendurado desde que soube que vinha para Timor (é a parte lixada de ser advogado num escritório e não numa empresa... há mais do que um assunto, mais do que um cliente para aturar), e em segundo a estabelecer mais contactos que poderiam ser úteis para a “odisseia Timor”.
A primeira tarefa não tem especial interesse narrativo: mais respostas óbvias (para mim) a perguntas estúpidas de clientes intelectualmente limitados (sim, sou preconceituoso... e qual é o problema???). A segunda já foi mais estimulante! Apanhar táxi à porta do hotel, tentar explicar a alguém que só fala Tetum para onde quero ir... a primeira paragem foi fácil... basta referir “Embaixada de Portugal” e já está!!! Já agora, aproveitou para vos contar como funcionam os táxis em Dili: 1 dólar é a tarifa fixa para qualquer ponto da cidade! Se não tiveres dinheiro trocado e o taxista também não tiver troco... é de borla... pagas para a próxima!!! Isto já não existe em qualquer outra parte do mundo... na Tailândia, por exemplo, também não há problema, mas a solução é diferente: ficam-te com o troco!

Na embaixada fui muito bem recebido pelo Senhor Embaixador e pelo Adido para a Cooperação (aproveito para mandar um abraço de amizade e de agradecimento ao Pedro, Alentejano de gema, comparsa dos tempos da faculdade, amigo para sempre, que me arranjou estes contactos). É impressionante como longe das grandes metrópoles e dos sítios mais “in” do mundo, o contacto pessoal se torna mais facilitado e até os altos funcionários do estado se disponibilizam para falar com um cidadão do seu país que está a estudar o sítio onde eles estão colocados! Gostava de ver o que me aconteceria se fosse pedir para falar com o embaixador em Paris, ou em New York... Gostei da conversa, gostei dos interlocutores! É sempre bom poder ouvir o que quem vive nos locais tem para dizer, e trocar impressões, já que, por vezes, quem vem de fora também tem uma visão diferente. Obrigado a todos! Já agora, fica uma referência à vista da embaixada... simplesmente fabulosa como podem ver!
De saída da embaixada, novo táxi, desta vez para o Ministério, para cumprir a promessa de ir visitar o Ministro. Esta tarefa tornou-se mais complicada já que (novidade) o taxista não falava outra língua que não o Tetum... eu não falava Tetum, e o sítio era um pouco mais complicado de encontrar. Algumas palavras depois, e um palpite meu que aquela palavra que o gajo tinha dito era o nome da zona onde ficava o Ministério, lá chegámos ao destino. Custo da viagem (3 vezes mais comprida do que a anterior) 1 dólar!
O encontro com o Ministro decorreu de forma descontraída. Mais umas risotas por causa da tradução dos outros, alguma conversa séria, explicação do projecto do escritório, algumas oportunidades de trabalho novas. Enfim, encontro produtivo e amigável. O Ministro José Teixeira acaba de se inscrever no conjunto de pessoas que me marcou na vida! Ainda por cima ofereceu-me boleia para o Hotel Timor, e prometeu-me um café na próxima vez que estivesse em Dili. A grande diferença: fiquei com a certeza que a promessa foi sincera!


Continuação de negociações e festa!

A manhã começou cedo, e bem... mais uma corrida até ao Ministério para nos encontrarmos com a nossa interlocutora, para confirmarmos se as alterações negociadas de véspera, à luz de lanterna (que romântico) tinham sido bem introduzidas ou não! Depois de sermos recebidos pela desgraçada que confessou ter passado a noite toda a introduzir alterações (não deve ser fácil para uma norueguesa introduzir alterações num documento em português...), decidi assustá-la mais um pouco... “ah e tal... já agora, não referi uns erros ontem que penso que devem ser corrigidos”. Até tive pena dela... se vissem a cara com que ficou... Confesso que não foi maldade, mas estratégia pura. É que na véspera, se tivesse ousado propor mais uma alteração que fosse, teria sido chacinado! Assim sendo, nada como tentar introduzir mais umas alteraçõezitas à última da hora... que, por acaso, resultou!!!

Ao fim de 2 horas a rever e alterar o documento, a nossa amiga lá foi a correr para a Xerox (único sítio onde se conseguem impressões, encadernações, etc.) para tentar imprimir as cópias do contrato que iria ser assinado da parte da tarde, antes que faltasse a luz na cidade e não houvesse assinatura para ninguém! A assinatura em si correu sem percalços de maior, caneta para aqui, caneta para ali, assinatura, aperto de mão, fotografia, sorrisos. “Ai e tal até logo!!! Vemo-nos na recepção oficial...” Pelo meio ainda houve tempo para troca de piadas com o Ministro, do género: “Ah, então foi você que destruiu o contrato de uma ponta à outra e obrigou a malta a trabalhar à luz da lanterna...” O Ministro pareceu-me boa pessoa, bem disposto, competente, dedicado. Curiosamente, também cresceu na Austrália, onde tirou o curso de direito e exerceu até regressar a Timor para integrar o governo, começando por cargos mais baixos até chegar a Ministro. Se alguém tem dúvidas, ainda há quem exerça cargos políticos por dedicação ao povo!

Da parte da tarde ainda tive oportunidade de encontrar-me com um Australiano que trabalha para o Ministério das Finanças para esclarecer umas dúvidas de direito fiscal. De fato, só não se faz mais por Timor porque faltam os meios... O meu interlocutor não só recebeu-me no gabinete, como esclareceu todas as dúvidas que tinha, enviou-me algumas leis por internet, e ficou de me arranjar fotocópias das outras... mal aparecesse um funcionário que tratasse do assunto...
À noite, nova oportunidade de conviver com as pessoas que mais me devem odiar neste momento (os três desgraçados que trabalharam à luz de lanterna na véspera)! Agora a sério, é gente boa, de fácil trato, que me recebeu como se me conhecesse há anos! Também ajudou o facto de os erros de tradução que nós detectámos na versão portuguesa do contrato serem tão ridículos, que foram alvo de piadas a noite toda por parte de quem sabia a história! E algo me diz que naquela noite a história se espalhou por Dili... Para terem uma ideia, uma das pérolas da tradução consistia na tradução de “automotive equipment” para “equipamento automóvel”, e não “automotivo”... pode parecer um erro de menor importância... a não ser o facto de se tratar de material que está a milhas da costa, a flutuar em cima de uma plataforma petrolífera... se calhar um carro faz falta... quem sabe! Ah... e também há aquela de “welfare” no sentido de “bem-estar” ter sido traduzido para “segurança social”... já para não falar nos termos próprios da indústria petrolífera em que não conseguiram acertar num... enfim, um completo desastre!

A noite em si foi agradável. Conheci todos os representantes das empresas que estão a operar em Timor neste momento, falei, sorri, distribui cartões (parecia um daqueles gajos das mesas de jogos de Las Vegas... quem quer mais uma carta...), e ainda tive oportunidade de trocar umas palavras com o Prémio Nóbel / Primeiro Ministro Ramos Horta. O Ministro dos Recursos Naturais provou, mais uma vez, ser uma pessoa fabulosa! Trocámos piadas, rimos da desgraçada da tradução, falámos da Austrália, de conhecidos comuns (ele trabalhou com um colega meu de escritório nas negociações sobre o mar territorial com a Austrália), e acabámos a noite com ele a convidar-me para visitá-lo no dia seguinte no Ministério. Portanto, a coisa correu bem.

Wednesday, November 15, 2006

Bem vindo a Dili! Improvisação no seu melhor!

A aterragem no aeroporto “Presidente Nicolau Lobato” em Dili correu da melhor forma, sem sustos, com uma vista deslumbrante de palmeiras e água azul, e com vista do primeiro pó e construção simples e instável que se adivinhava...

O caminho da pista até aos “edifícios” é feita, como em muita parte sub-desenvolvida do mundo, a la pata (o exercício faz sempre falta, sobretudo com 30 e tal graus e uma humidade... que não fica aquém de Houston), e a emissão de vistos processa-se num contentor... a não ser que sejas português, e tenhas direito a entrar sem o dito papelito! O aeroporto em si é tão (pouco) movimentado, que é aberto para receber o voo, e imediatamente encerrado quando o último passageiro sai. De resto, no problems, gente simpática, humilde, e caminhada curta até à carrinha do hotel... nada de novo!
O primeiro sinal de que as coisas não são cor de rosa é o campo de refugiados localizado à saída do aeroporto, o tal que tem andado nas notícias por todas as razões erradas. Leia-se, catanada e pedrada! No entanto, pelo menos para mim, a vista de soldados internacionais armados até aos dentes é um bom sinal, de uma segurança relativa...

Do resto do dia, pouco mais há que contar. Ao contrário dos nossos planos, não podemos ir directos ao Ministério dos Recursos Naturais, Minerais e Energia porque... andavam à procura de técnicos portugueses que pudessem assistir a assessora Norueguesa que ia negociar connosco... bem vindos a Timor!

Quando finalmente fomos chamados ao dito Ministério, tivemos uma reunião muito proveitosa com a Senhora, assistida por dois Brasileiros que trabalham para entidades diferentes, nenhuma das quais o Ministério com que estávamos a negociar (é o espírito do desenrasca no seu melhor). A meio da reunião a electricidade foi abaixo 4 ou 5 vezes, a última das quais definitivamente (parece que acabou-se a ração de gasóleo para o gerador), o que levou a que acabássemos a reunião totalmente às escuras, com os três desgraçados a acompanharem-me com lanternas... eu sempre tinha a luz do monitor do computador!

Jantar iniciado num restaurante australiano por cima de uma loja de mergulho, em frente à praia, com o nome sugestivo de “Dive”! Digo iniciado porque... foi acabado num quarto de hotel a trabalhar, depois de termos recebido um telefonema de “urgência”. Lá no fundo, lá no fundo, pouco muda: Sandwichs Club e quartos de hotel...

Esqueci-me de um pormenor... parece que a Timor Telecom (da Portugal Telecom) presta um serviço tão bom em Timor como em Portugal... a ilha está há vários dias com os telefones todos marados, e há 3 sem internet!!! Melhor, quem tem telemóveis de redes estrangeiras em roaming consegue fazer chamadas perfeitamente, quem usa telemóveis locais está f.... Será que tem a ver com o que a Timor Telecom factura aos expats???

Deixo-vos como uma foto do Palácio do Governo (que ficou do tempo dos portugueses), já que uma foto do Ministério onde estive poderia... assustar! Caso não tenham reparado, a frente do palácio está em obras, parece que vão construir um jardim, como existia no tempo dos portugueses... enquanto o povo continua sem água canalizada e muitos sem um tecto sob a sua cabeça... no comments... tiveram bons professores!
Air Merpati... ganda nóia!

Dia seguinte, acordar às 7, já que os gajos da agência tinham ficado de me ir buscar ao hotel para me levarem ao aeroporto às 8. O voo estava marcado para as 10h05. Escusado será dizer que, depois de sairmos do hotel às 7h55, às 8h00 estava a fazer o check in no aeroporto de “Bali-Denpasar”, o tal que não convém visitar... Gajos espertos estes guias... obrigarem um gajo a acordar cedo para ir para um aeroporto que fica a 5 minutos do hotel, para efectuar um check in que demora 3 minutos (sim, não se esqueçam que este é o tal aeroporto), para um voo que deve levar 30 pessoas. Resumindo e concluindo, às 8h05 estava despachado e tinha de descobrir algo para fazer nas duas horas que me restavam até ao voo... Ainda pensei aventurar-me nas lojas de duty free (que, para minha vergonha, até são mais e com maior oferta do que as de Lisboa... tipo, deve haver 5 vezes mais lojas num aeroporto de merda do que na Portela). Após várias abordagens de “where youa goin’? Fest time in Bali? Didju enjoy? wanna buy sansing?”, desisti da ideia… se tiver pachorra vou às compras na volta!

Optei por ir para a sala de espera, assim sempre podia ler um pouco e trabalhar no portátil. Chegado à dita sala, deparo-me com as máquinas de raio-x abandonadas, e os seguranças a verem wrestling numa TV manhosa... faz-me lembrar uma famosa viagem de Singapura para Malaca, em 1986... É bom ver que os gostos destes gajos não mudam, ao menos são coerentes! Como não queriam, certamente, ser interrompidos, mandaram-me porta fora com a indicação de que ainda não estavam a admitir pessoas na sala de embarque... lá fui eu sentar-me nas cadeirinhas da treta do aeroporto, a ouvir uma música horrenda que parecia um anúncio de brinquedos para crianças. Bem vindo à Ásia...

Às 9h50, os moços decidiram começar a admitir pessoas para a sala de embarque (relembro que o avião estava previsto sair às 10h05), ao mesmo tempo que iam anunciando que era a “última chamada” para o voo Merpati para Dili! Verdade seja dita que conseguiram enfiar a malta toda na sala de espera em 10 minutos! De seguida, tivemos outra surpresa: a porta que dava acesso à pista (e ao avião), estava trancada! Qual o espanto de todas as pessoas quando, às 10h05, o avião começa a andar na pista, e a colocar-se em posição para descolar, com os passageiros todos fechados dentro da sala de embarque! Eu dei comigo a pensar “estes gajos não podem ser assim tão estúpidos! De certeza que sabem que o avião está vazio” e, por isso, fiquei sentado. O resto da malta que estava à espera para entrar no avião entrou em pânico e começou a protestar com os guardas que, com aquele ar de quem não se quer chatear, disse para não se preocuparem...

Verdade seja dita, tinham alguma razão! O avião arrancou atrasado, mas arrancou... com os passageiros lá dentro! Quanto à viagem, nada a assinalar, para além do facto da Merpati ter aperfeiçoado a conhecida habilidade das linhas aéreas de servirem comida de merda aos passageiros, e de eu não ter percebido um boi do que as hospedeiras diziam na descolagem e na aterragem (a Merpati deve ser uma filial da Iberia...).

Tuesday, November 14, 2006

Chegada a Bali

Depois de 1 dia e tal de viagem sem grandes acontecimentos, para além de ter dormido apenas cerca de 2 horas na primeira noite para ver se conseguia enganar o jetlag, cheguei a Bali, estância turística conhecida mundialmente, cidade vítima de um dos mais horríficos atentados terroristas dos últimos tempos, último ponto de paragem antes de chegar a Dili. Confesso que, com a minha capacidade para me abstrair das histerias colectivas, consegui aterrar, entrar na carrinha do transfer, e fazer o caminho para o hotel, sem sequer pensar na suposta “ameaça terrorista”. Confesso, também, que me apercebi que ainda não é tempo de brincar com a sorte quando, à entrada do complexo do hotel, dois seguranças armados passaram o carro e as minhas malas a pente fino com detectores de metais... Aqui descansa-se... do outro lado da cancela!
Pelo que deu para ver da viagem até ao hotel, a cidade é um pouco caótica (o que parece ser uma tradição asiática), cheia de lojinhas para os turistas, ambiente meio hippy (tipo o filme “The Beach”), turista pé-descalço e tal... o hotel não era mau, embora já tenha estado em melhores (também já estive em sítios piores, quem não se lembra do mítico “Archie’s House”... melhor espelunca de Veneza...).
Confesso, no entanto, que depois de tantas horas de viagem, irritou-me aquela voz aguda das Indonésias a dizerem com aquele sotaque pateta “Oh... youa new ‘ere! Come to Bali fest time, gooda biche, go wata, wanna buy tisherte…” Não há pachorra!!!
À noite, depois de ter estado a trabalhar com o cliente, fomos jantar a um restaurante em cima da praia, não sei bem onde (o meu sentido de orientação é, de facto, maravilhoso), onde optei por um peixe qualquer local grelhado... com arroz (originalidade asiática). Quando eu digo em cima da praia, quero dizer mesmo em cima da praia... tipo sentado numa mesa em cima da areia, a 2 metros da água, com uns tipos meio hippies a tocar guitarra na praia do lado e tal! Ambiente porreiro! Quanto ao preço: 223.000 rupias... “Ó moço, traduz lá esta porra para dólares que: 1) a malta não tem rupias, 2) a malta nem sequer sabe o que é uma rupia... desta vez a minha conhecida logística falhou, nem investiguei os câmbios... Regressado o empregado com a conta “traduzida”, deparei-me com a quantia exorbitante de $27, para 2,8 Kg de peixe fresco, mais bebidas!
Bali surpreendeu-me! O sítio é um local turístico concorridíssimo há décadas, mas os gajos não só não têm preços em dólares, como continuam a praticar preços ridículos (sim, porque uma noite num hotel bom custa... 50 dólares)... não existe!

Sunday, November 12, 2006

Começa o carrossel...

Vrummm... abastecimento alimentar (leia-se pequeno almoço) no Grand Lux Café (quem vai para a privação, aproveita a última refeição pecaminosa), corrida até ao escritório para recolher material de última hora, corrida para o aeroporto... uff, cheguei! Check in de 1 hora e meia, desespero, seguranças histéricos “do not take liquids! Anything which is not a solid or a gas is a liquid, whether you think of it or not! Toothpaste is a liquid!” Cambada de patetas… Entretanto, um cartaz gigantesco anunciava “The US State Department advises that the Bali-Denpasar airport does not comply with the minimum security requirements for international air travel and should be avoided”... óptimo, é mesmo para aí que vou!

Prepara-te… Vai começar o carrossel: Houston – Frankfurt – Singapura – Bali – Dili… ui… vai doer! Vou entrar num avião às 16h00 de dia 12, e vou sair do último avião (se não houver atrasos) às 14h00 de dia 15. Pelo meio tenho direito a meio dia de paragem num hotel em Bali, para trabalhar... a coisa promete!
Começa o carrossel...

Vrummm... abastecimento alimentar (leia-se pequeno almoço) no Grand Lux Café (quem vai para a privação, aproveita a última refeição pecaminosa), corrida até ao escritório para recolher material de última hora, corrida para o aeroporto... uff, cheguei! Check in de 1 hora e meia, desespero, seguranças histéricos “do not take liquids! Anything which is not a solid or a gas is a liquid, whether you think of it or not! Toothpaste is a liquid!” Cambada de patetas… Entretanto, um cartaz gigantesco anunciava “The US State Department advises that the Bali-Denpasar airport does not comply with the minimum security requirements for international air travel and should be avoided”... óptimo, é mesmo para aí que vou!

Prepara-te… Vai começar o carrossel: Houston – Frankfurt – Singapura – Bali – Dili… ui… vai doer! Vou entrar num avião às 16h00 de dia 12, e vou sair do último avião (se não houver atrasos) às 14h00 de dia 15. Pelo meio tenho direito a meio dia de paragem num hotel em Bali, para trabalhar... a coisa promete!

Saturday, November 11, 2006

Vela no Golfo... finalmente o mistério da água castanha é desvendado

Hoje tive a minha primeira aula de vela no Golfo! Basicamente, o que se passa é o seguinte... Provavelmente conseguiria que me dessem equivalência da minha carta de Patrão Local. No entanto, quando fui ver o preço dos cursos da American Sailing Association, descobri que custavam cerca de $200, ou seja, 1/4 do que a minha carta custou! Portanto, que se lixe a equivalência! Vou fazer tudo de novo e, como o curso é maioritariamente prático (ao contrário do Português), ainda consigo andar no Golfo a curtir! O que também ajuda, porque convém sair as primeiras vezes com alguém que conhece as águas.

Portanto, Sábado, 1 da tarde, dou comigo a sair para a água num barco de 32 pés (estou a subir na vida...Nuno, vai poupando para o Beneteau!), com roda do leme (viva o luxo), e com um grupo de malta porreira. Ah, esqueci-me de vos contar um pormenor... estão 18 nós de vento... e eu, até agora, só tinha saído com o máximo de 13... que se lixe! A ideia aqui (e é bem visto) é que se sai qualquer que seja a força do vento (excepto furacões... há muito tempo para isso depois...), tanto mais que a ideia do curso é habilitar os alunos a navegarem em quaisquer condições de vento e mar! Está tudo dito!

Durante a aula tive de habituar-me à roda do leme, aos ventos fortes, e às asneiras da malta que nunca tinha andado de barco (até foi divertido), mas aprendi muita coisa! Vou poupar-vos os pormenores que dizem respeito à vela propriamente dita, para vos contar umas trivialidades interessantes: 1) esta zona do Golfo tem água castanha (sim, até a uma distância do caraças da costa) porque o fundo do mar é lamacento e porque a água é relativamente pouco funda, o que também origina uma agitação marítima no mínimo... interessante, 2) as plataformas petrolíferas que se vêem da costa estão a produzir, 3) fazendo o curso naquela escola de vela, passamos a fazer parte do clube da escola e, por uma ninharia por mês, podemos sair com os barcos sempre que quisermos! Mais aventuras virão!

A caminho de casa, ainda passei por uma farmácia para comprar duas embalagens de repelente de mosquitos! Desde há alguns meses que desisti dos comprimidos para a malária, e apostei no repelente e ar condicionado... sempre fazem menos mal do que os comprimidos e, supostamente, oferecem maior protecção! Consegui descobrir dois repelentes que me interessavam devido ao grau de protecção que supostamente dão. Um deles tinha, curiosamente, um grau de DEET (componente químico principal dos repelentes) mais elevado do que o máximo recomendável... foi esse que comprei! Quando se vai para um país que tem mosquitos de malária à noite, e de dengue durante o dia, que se lixe um pouco de DEET a mais!

Thursday, November 09, 2006

Olha... que tal estares em Timor daqui a meia dúzia de dias???

Cada vez mais fico convencido que vivo num mundo de malucos! Estava eu sentadinho em Houston, a meio da tarde, quando recebo uma chamada de Lisboa a perguntar se estava disponível para ir a Dili, na semana seguinte, ajudar um cliente nas negociações e assinatura de um contrato de partilha de produção para uma área que lhe havia sido atribuída na zona exclusiva do mar de Timor... Fiz as contas e cheguei à conclusão que iria passar de um fuso horário de GMT -6, para GMT + 9, portanto, 15 fusos horários! Isto é de loucos, ainda por cima para um país que, ultimamente, tem feito da catanada e da pedrada o desporto nacional! Que se lixe, porque não! A curiosidade é demasiado grande!

Começa a corrida... será que ninguém consegue prever/organizar estas coisas com tempo? Pus-me a procurar voos e descobri uma coisa interessante: era quase a mesma coisa dar a volta para oeste ou dar a volta para leste. Linhas aéreas disponíveis para estar em Timor na data prevista: Air China com outra linha aérea da qual nunca tinha ouvido falar, ou Lufthansa e Singapore Airlines... o yeah... se pensam que vou com os chineses, estão muito enganados... eu gosto muito da cultura oriental, mas para jogar mahjong, qualquer linha aérea serve (desde que não seja a Air China)... no hard feelings!

Wednesday, November 08, 2006

É NATALI!!!

Luzes e luzinhas... a cidade está cheia de luzes e luzinhas! Não fosse natal, “the season to be jolly, la, la, la, la, la...”

Como tudo neste cantinho do mundo, as coisas vão surgindo devagarinho... Os mais atentos vão detectando os primeiros sinais (no meu caso o enrolar de luzinhas pequeninas à volta das árvores no parque em frente à Câmara Municipal), depois, de um dia para o outro, ZÁS! Já está, a cidade parece uma árvore de natal!

Eu já tinha reparado nas tais luzinhas nas árvores, nos veados iluminados em frente ao prédio do escritório, nas árvores de natal gigantes e nas coroas, nas casas decoradas com mil e uma luzes nos jardins, a fazer lembrar as casas mais bimbas de Portugal (aliás, é ao contrário, são as casas bimbas de Portugal que imitam as casas bimbas americanas!), mas nada me podia preparar para o que encontrei esta noite quando saí do elevador do escritório... Mal se abriram as portas ouvi um som estridente de vozes alemãs a cantar aquelas músicas típicas dos alpes (“yodles”)! Como quando as coisas estão más, só podem piorar (lei de Murphy), deparei-me com um sem número de rapazes, raparigas e adultos, loiros, vestidos com calções, suspensórios, e outras roupas igualmente ridículas, a dançarem de forma a tocar com as mãos nos pés enquanto gritavam “ololé, ololé, ololé, iu...”

Por momentos tive a sensação que estávamos a ser invadidos pelos alemães que tinham vindo reclamar o Texas, depois de terem sido praticamente os responsáveis por terem roubado o território aos mexicanos (a lição de história completa fica para outra ocasião)! ACHTUNG DEUTSCHLAND! Até me atirei para o chão e pedi reforços ao exército! Depois lembrei-me de ter visto qualquer coisa sobre a reconstituição de um natal alemão num cartaz qualquer. Também me lembrei de ter visto uns senhores de manhã e à hora do almoço a montar umas casinhas tipo “casinhas dos alpes”.

Lá no fundo, tive pena de estar com pressa e não ter tido tempo para investigar mais (poderia até ter ganho uma medalha do Congresso por serviços de contra-espionagem!). Fui a rir-me o caminho todo... Só os americanos para em meia dúzia de horas converterem o hall de entrada de um edifício em aldeia alemã...

O mais impressionante é que, no dia seguinte de manhã, quando ia investigar melhor, tinha tudo desaparecido! O edifício estava tal e qual tinha estado nos dias anteriores...

Terá sido um sonho? Terá sido uma tentativa de invasão falhada e abafada? Certamente é um caso para os X-FILES!!! Mulder...

Sunday, November 05, 2006

Borat... em busca do conhecimento americano para fazer do Kasaquistão uma (ainda mais) grandiosa nação!

Como um dia de cultura tem de acabar com cultura, saí do Herman Park direitinho aos cinemas “Edwards” (bem, direitinho não foi, já que perdi-me...), decidido a ir ver a estreia do filme “Borat”, mais uma personagem do criador do mítico “Ali G”. Para quem nunca viu o Borat, trata-se do famoso repórter da televisão estatal do Kasaquistão, que conseguiu provocar uma crise diplomática entre esta maravilhosa nação e a Inglaterra, país de origem de Sacha Baron Cohen, o criador/actor do “Borat”. Parece que a malta do Kasaquistão tem falta de “poder de encaixe”...

Descansem os Kasacs... o filme (que bateu recordes de bilheteira na estreia nos Estados Unidos e, ao que tudo indica, irá continuar pelo mesmo caminho), é mais uma crítica à sociedade americana, apesar de gozar descaradamente com os Kasacs! Então aquela cena dele levar uma prostituta preta como convidada a um jantar de “Elites americanas num estado do sul do país” é, no mínimo, deliciosa!

Fui a rir até casa! Para ficarem com um cheirinho, deixou-vos com uma foto de Borat, vestindo o fato de banho oficial da equipa olímpica masculina de natação do Kasaquistão...
Esquilos voadores... assassinos!

Como estava a dizer, descobri um esquilo, e dei comigo a pensar, “nada melhor do que um esquilo a comer uma bolota para dar uma bela foto!” Ainda por cima o sol estava a passar por entre os ramos das árvores: maravilha! Aponto a máquina, foco, decido aproximar mais porque o gajo ainda está longe para o efeito que quero e... merda! O zoom da máquina não dá mais! Única solução: aproximação pé ante pé, para o bicharoco não fugir! Lá vai o Ricardo, devagarinho, até que o peludo olha para cima e começa a dar ao rabo...

Zoom, foca, assobia para o ar tipo “eu não estou a olhar para ti...”, ainda está longe demais... aproxima mais um bocadinho a tentar não fazer barulho, aponta, foca... o filho da mãe do bicho olha para cima, põe-se em pé em duas patas... e foge! Merda! Para junto ao tronco da árvore e olha para mim (enquadramento ainda melhor). Aproximo-me, foco, e o filho da mãe foge árvore acima!

Desisti, fiz-me ao caminho e passado um bocado, novo esquilo! Nova tentativa, mesmo resultado! E isto repetiu-se três vezes até eu chegar à conclusão que os gajos estavam a gozar comigo, e desistir de tirar fotos aos esquilos! Registo mental: “voltar quando tiveres uma lente de jeito na máquina!” A verdade é que fiquei mesmo convencido que eles estavam a gozar comigo. Eu passo a explicar: é que no meio do Herman Park existe um campo de golfe que nem sequer está vedado, portanto, o sítio onde eu e os meus alvos (fotográficos) nos encontrávamos é uma rota de passagem de bolas de golfe (nos casos em que quem está a jogar não tem muito jeito...). E a verdade é que, enquanto os camelos dos bichinhos peludos comiam as suas bolotas, choviam bolas de golfe ao pé deles! E pensam que os camelos fugiam??? Nem pensar, só fugiam quando eu me aproximava e estava prestes a tirar a foto! Enfim...

Resignado ao papel de “bobo do esquilo”, segui de volta para o carro. Mas como não há três sem quatro, pelo caminho vi outro esquilo que daria uma bela foto. Aproximei-me, foquei, o camelo fugiu, subiu árvore acima, e fico parado a 3 metros da minha cabeça, a olhar para mim! E eu, está-se mesmo a ver, saco da máquina, aponto, foco, e de repente o gajo corre na minha direcção, salta por cima da minha cabeça, aterra na árvore do lado, e põe-se a fugir! E eu borrei-me todo porque já estava a ver o esquilo a atirar-se à minha cara e a morder-me o nariz!
Acabou-se, fui para o carro! Caguei para os esquilos! Devia era armar-me em Texano e disparar... a sério! Aí é que eles iam ver com quem é que gozam!
Cultura...

Há uns tempos atrás, o meu pai perguntava-me “anda tudo a perguntar quando é que actualizas o blog... O que é se faz em Houston ao fim de semana???”

Bem, há várias hipóteses: a) ir até Galvestone nadar na lama, b) ir até ao Goode Company’s almoçar e não se mexer mais até a digestão estar feita (passados alguns dias), 3) passear num dos parques, 4) ir até um bairro de mexicanos, chamar-lhes “bean eaters”, e correr, 5) dedicar-se à cultura. De todas as opções, este fim de semana decidi dedicar-me à cultura!

Na 6ª feira à noite tinha decidido que no Sábado iria dedicar-me a fazer algo útil, que passaria por: 1º ir a uma loja de fotografia profissional por a velhinha máquina fotográfica operacional, 2º comprar um rolo fotográfico a preto e branco, 3º aventurar-me até ao museu de ciências naturais de Houston, 4º tirar umas fotos interessantes... portanto: Cultura!

E assim foi, no Sábado levantei-me cedo, fui tomar o pequeno almoço ao “Madeleine’s” (boa escolha... já verão porquê), e depois direitinho à loja de máquinas resolver o meu problema fotográfico! Daí, parti para o museu de ciências naturais, para aprofundar os meus conhecimentos... 1 hora, e vários enganos no caminho depois (há certas coisas que nunca mudam... Raquel, ainda te lembras do caminho para Vila Nova de Mil Fontes... he, he!), cheguei ao famoso museu. Comprei bilhete, entrei no dito, e deparei-me logo com uma exposição que me deixou com um sorriso de orelha a orelha: “dinossauros”! Escusado será dizer que, entre fosseis, explicações, reconstituições e outros dados interessantes, lá fui disparando umas fotos (algumas em posições bem estranhas)... esperemos que tenham saído bem (sim, porque isto de voltar atrás no tempo para a foto “não-digital” tem muito que se lhe diga!). Os meus modelos: um tal de Archaeopteryx, o chão (não intencional), e um Ankylosaurus a ser atacado por Dromaeosaurus (esta última uma reconstituição... os bilhetes para o Parque Jurássico eram um pouco caros demais).

Descobri, também, que ao fim de semana o museu realiza actividades para atrair os mais pequeninos, entre as quais explicações pelos alunos da Universidade do que é arqueologia, como se descobrem fosseis, etc. A melhor coisa que vi foi uma banca onde os miúdos podiam ir recolher umas rochas com fósseis, trabalhá-las até aos fósseis ficarem visíveis, e depois levar as suas descobertas para casa! Cá está uma óptima ideia para atrair o interesse dos mais pequenotes, e arrancá-los do sofá!

De seguida, dei comigo a entrar no “Weiss Energy Hall”, que nada mais é do que uma exposição permanente dedicada... à energia, com especial ênfase na exploração petrolífera (caso já se tenham esquecido, estamos em Houston). Fui andando de explicação em explicação, ecrã multimedia em ecrã multimedia, de broca em broca, espécime de crude em espécime de crude... até que, ao fim de QUATRO HORAS!!!! Já sabia tudo o que ainda não sabia sobre exploração petrolífera no mundo inteiro! Confesso que a exposição é óptima (não só para quem trabalha no meio) e não tem por detrás qualquer intenção de lavagem cerebral destinada a convencer as pessoas que a exploração de hidrocarbonetos é boa ou má (até podia ter, já que a exposição é financiada pelas maiores empresas petrolíferas mundiais), é unicamente uma exposição informativa, sobre como se processa a extracção de petróleo e gás.

Ao fim desta aventura, confesso que já não estava com muita paciência para ver animais africanos embalsamados, por isso saltei para a exposição dos povos americanos: índios, incas, aztecas, etc., e depois saltei dali para fora porque já estava a morrer de fome (ainda bem que tomei o pequeno almoço no “Madeleine’s”!).
A caminho do carro, ainda fui dar um passeio pelo Herman Park (que fica colado ao museu) e aproveitei para ir tirando umas fotos das árvores e afins, já que pensei que o por do sol poderia dar umas fotos artísticas interessantes (sim, agora também sou artista em part-time). No meio da minha incursão no meio das árvores, descobri um esquilo... e começou outra aventura...
Cultura...

Há uns tempos atrás, o meu pai perguntava-me “anda tudo a perguntar quando é que actualizas o blog... O que é se faz em Houston ao fim de semana???”

Bem, há várias hipóteses: a) ir até Galvestone nadar na lama, b) ir até ao Goode Company’s almoçar e não se mexer mais até a digestão estar feita (passados alguns dias), 3) passear num dos parques, 4) ir até um bairro de mexicanos, chamar-lhes “bean eaters”, e correr, 5) dedicar-se à cultura. De todas as opções, este fim de semana decidi dedicar-me à cultura!

Na 6ª feira à noite tinha decidido que no Sábado iria dedicar-me a fazer algo útil, que passaria por: 1º ir a uma loja de fotografia profissional por a velhinha máquina fotográfica operacional, 2º comprar um rolo fotográfico a preto e branco, 3º aventurar-me até ao museu de ciências naturais de Houston, 4º tirar umas fotos interessantes... portanto: Cultura!

E assim foi, no Sábado levantei-me cedo, fui tomar o pequeno almoço ao “Madeleine’s” (boa escolha... já verão porquê), e depois direitinho à loja de máquinas resolver o meu problema fotográfico! Daí, parti para o museu de ciências naturais, para aprofundar os meus conhecimentos... 1 hora, e vários enganos no caminho depois (há certas coisas que nunca mudam... Raquel, ainda te lembras do caminho para Vila Nova de Mil Fontes... he, he!), cheguei ao famoso museu. Comprei bilhete, entrei no dito, e deparei-me logo com uma exposição que me deixou com um sorriso de orelha a orelha: “dinossauros”! Escusado será dizer que, entre fosseis, explicações, reconstituições e outros dados interessantes, lá fui disparando umas fotos (algumas em posições bem estranhas)... esperemos que tenham saído bem (sim, porque isto de voltar atrás no tempo para a foto “não-digital” tem muito que se lhe diga!). Os meus modelos: um tal de Archaeopteryx, o chão (não intencional), e um Ankylosaurus a ser atacado por Dromaeosaurus (esta última uma reconstituição... os bilhetes para o Parque Jurássico eram um pouco caros demais).

Descobri, também, que ao fim de semana o museu realiza actividades para atrair os mais pequeninos, entre as quais explicações pelos alunos da Universidade do que é arqueologia, como se descobrem fosseis, etc. A melhor coisa que vi foi uma banca onde os miúdos podiam ir recolher umas rochas com fósseis, trabalhá-las até aos fósseis ficarem visíveis, e depois levar as suas descobertas para casa! Cá está uma óptima ideia para atrair o interesse dos mais pequenotes, e arrancá-los do sofá!

De seguida, dei comigo a entrar no “Weiss Energy Hall”, que nada mais é do que uma exposição permanente dedicada... à energia, com especial ênfase na exploração petrolífera (caso já se tenham esquecido, estamos em Houston). Fui andando de explicação em explicação, ecrã multimedia em ecrã multimedia, de broca em broca, espécime de crude em espécime de crude... até que, ao fim de QUATRO HORAS!!!! Já sabia tudo o que ainda não sabia sobre exploração petrolífera no mundo inteiro! Confesso que a exposição é óptima (não só para quem trabalha no meio) e não tem por detrás qualquer intenção de lavagem cerebral destinada a convencer as pessoas que a exploração de hidrocarbonetos é boa ou má (até podia ter, já que a exposição é financiada pelas maiores empresas petrolíferas mundiais), é unicamente uma exposição informativa, sobre como se processa a extracção de petróleo e gás.

Ao fim desta aventura, confesso que já não estava com muita paciência para ver animais africanos embalsamados, por isso saltei para a exposição dos povos americanos: índios, incas, aztecas, etc., e depois saltei dali para fora porque já estava a morrer de fome (ainda bem que tomei o pequeno almoço no “Madeleine’s”!).
A caminho do carro, ainda fui dar um passeio pelo Herman Park (que fica colado ao museu) e aproveitei para ir tirando umas fotos das árvores e afins, já que pensei que o por do sol poderia dar umas fotos artísticas interessantes (sim, agora também sou artista em part-time). No meio da minha incursão no meio das árvores, descobri um esquilo... e começou outra aventura...

Wednesday, November 01, 2006

Eles andem aí...

A histeria começou há sensivelmente 3 semanas, e culminou na 3ª feira, dia 31 de Outubro, com a noite de Halloween! Durante os últimos tempos, esta malta tem andado obcecada com o que é conhecido, em Português, como a "noite das bruxas".

Os anúncios (alguns bem giros) de venda (não podia deixar de ser, já que esta malta adora gastar dinheiro) de material temático inundam as TVs, os jardims e portas das casas, as árvores, etc. enchem-se de de bonecos, as lojas, restaurantes e clubes anunciam festas e promoções, as pessoas andam histéricas... algo em que os americanos são peritos!

É por estas e por outras que a economia americana se vai aguentando! Nestas épocas, toda a gente tem de comprar qualquer coisa, ou muita coisa, ou pelo menos mais coisas que os vizinhos... a palavra de ordem é "COMPRAR!" Se Marx tivesse vivido nos EUA, nestas últimas décadas, provavelmente teria escrito "as compras são o ópio do povo"! Como nasceu noutra época, noutro lugar, a religião pagou as favas!

Mas, não sejamos totalmente tendenciosos! Aparecem umas coisas giras, tais como campas para "plantar" no jardim com inscrições fabulosas, tipo "Eu avisei-vos que estava doente!", já para não falar nos fantasmas, vampiros, abóboras....


Aqui chegamos a outro ponto interessante: o peso da indústria das abóboras. Estou a falar a sério! Estou convencido que o país inteiro passa o ano a semear abóboras para o dia 31 de Outubro! Há abóboras para todos os gostos: grandes, pequenas, enormes, de plástico, naturais, enfim, o país é invadido por abóboras (e estes gajos ainda têm receio dos muçulmanos e dos ETs...eu se fosse muçulmano ou ET, infiltrava-me disfarçado de abóbora!). Resumindo, gajo que é gajo tem de ter uma abóbora. O grande acontecimento do "Dave Letterman Show" foi fazerem explodir uma abóbora gigante! Pumpkins, pumpkins, everywhere... Onde quer que se vá estão a vender abóboras. Os relvados das escolas estão repletos delas, para pais e criancinhas escolherem a que mais gostam e comprarem-na por preços irrisórios que depois revertem para a escola.

O mais fenomenal disto tudo (pelo menos para quem não conhece a mentalidade anglo-saxónica) é que as centenas (por vezes milhares) de abóboras ficam nos relvados durante a noite, sozinhas, sem guardas, e ninguém as rouba! Das duas uma, ou os criminosos não roubam abóboras (é muito pouco cool ser gangster e roubar abóboras...), ou então, no fundo, as abóboras são plantas carnívoras (ou ETs...)!

Já estou a imaginar o bom do Tuga a passar na rua à noite e pensar "olha, olha! Uma sopinha já marchava!" Depois, quando fosse levado a julgamento por "furto de abóbora", podia sempre usar aquela frase clássica "estavam ali a olhar pra mim, sozinhas, abandonadas! Sabe comé Sôtor... a ocasião faz o ladrão!" Que saudades que eu (não) tenho dos meus oficiosos...