Wednesday, January 10, 2007


Vícios, barcos, canas de pesca, e... cowboys???

Hoje decidi cometer várias loucuras! É verdade, eu que andava todo atinadinho e, de um momento para o outro, decidi visitar aquele antro do vício que dá pelo nome de “Houston Boat Show”!

Cada maluco com a sua mania, cada agarrado com o seu vício... há os viciados em droga, em tabaco, em chocolates, enfim, há mil e uma possibilidades. Eu ao menos sou viciado em coisas minimamente saudáveis... pelo menos para o corpo, se não para a carteira. Mas é verdade, a vida está cheia de vícios, e um dos meus são os veleiros, portanto nada melhor do que sair do trabalho e dirigir-me ao tal “Boat Show” para vasculhar as novidades do mercado e, sobretudo, comparar os modelos americanos com o que habitualmente se vê pelos salões e mares da Europa.

Embora anunciasse mais de 1000 barcos em exibição, o “Boat Show”, infelizmente como a maior parte dos salões náuticos, conta com algo como 970 barcos a motor, e uns míseros 30 exemplares movidos a vela, dos quais só cerca de 20 é que se podem classificar de verdadeiramente interessantes (ou seja, acima de 20 pés). A sorte é que dá para ver os veleiros (devido à altura) e, portanto, um gajo não tem de ver as novecentas e tal banheiras poluentes e ruidosas para chegar ao que verdadeiramente interessa! Por mero acaso, a minha visita começou logo por um “Hunter 25” que, supostamente, seria um concorrente da minha “Cat Balou”. O Hunter, novinho em folha, com atrelado, fica ao dobro do preço do Cat, o que não é mau para um barco novo. Aliás, o 25 está pensado como um bom veleiro de cruzeiro para principiantes. Como pontos a favor, a roda do leme, o bimini (cobertura para o poço que protege os ocupantes do sol), e os assentos no corrimão da popa, três aspectos que dão uma habitabilidade muito boa ao Hunter, e que são raríssimos (enquanto opção base) na Europa em barcos inferiores a 30 pés. Apesar desta vantagens, o interior do Hunter pareceu-me mais acanhado e mais pobre do que o Cat.

No mesmo campo dos 25 pés, visitei uma verdadeira desilusão, o Catalina 250. Demasiado baixo (não se consegue estar em pé lá dentro sem sermos forçados a dobrar o pescoço todo), demasiado estreito, e demasiado plástico. Como ponto positivo, os assentos na popa (um “must” em qualquer veleiro americano). Modelo interessante da Catalina é o 320, que me pareceu capaz de rivalizar com os modelos europeus, sobretudo devido ao seu interior que transmite uma sensação de espaço e luz. Parece que o “bicho” foi recentemente remodelado, e bem remodelado!

O passo seguinte foi a visita aos dois Beneteaus que estavam em exibição, o 423 (com um casco verde magnífico) e o 49... Enfim, viva o luxo! Os interiores destes dois brinquedos são verdadeiramente fabulosos: autênticas casas flutuantes, cheios de estilo, e cheios de luz: parece que as janelas (sim, os barcos podem e devem ter “janelas”, como ensina o Amyr Klink) grandes são uma das principais características dos modelos mais recentes! O exterior também dá asas à imaginação... é indiscritível o que senti em frente do leme destes dois brinquedos, a olhar para a proa! É verdade, a vela é como a droga ou qualquer outro vício, quanto mais se tem, mais se quer!!! Depois de ter dito inúmeras vezes que jamais quereria um barco daquele tamanho, cá estava eu a sonhar estar ao leme dum daqueles monstros, rodeado da família e dos amigos... enfim, delírios de pateta sonhador...

Nas visitas seguintes caí novamente em mim! De facto, como eu e o Nuno já tínhamos chegado à conclusão durante a Nauticampo 2006, o ideal são 30-33 pés. É o tamanho ideal para sair confortavelmente com até 6 pessoas a bordo, passar um fim de semana ou férias curtas. Tudo o que seja maior é óptimo para viver a bordo a reforma, ou para atravessar oceanos e dar a volta ao mundo, mas grande demais para o dia-a-dia de quem ainda (infelizmente) tem de estar preso a terra pelo trabalho. Dentro deste tamanho, gostei particularmente dos modelos da Hunter (o 31 e o 33). Barcos muito equilibrados, com muito conforto interior e exterior, e com mariquices que não se vêem na Europa, tais como Plasmas e DVDs, ar condicionado, chuveiros com cabine, interiores das casas de banho parcialmente em madeira, biminis de série, roda do leme de série em todos os modelos, assentos no corrimão da popa, enfim, outro conforto!

Segundo os vendedores, esta forma de encarar os barcos tem a ver com o facto de os veleiros, nos Estados Unidos, serem verdadeiramente “brinquedos” de família. É que nos EUA, os barcos são, na generalidade, um projecto do casal, ou seja, tanto o marido como a mulher velejam, enquanto na Europa a tendência é para ser o marido a velejar, e a mulher a fazer companhia ou, quando as viagens implicam algum tempo no mar, a ir lá ter de avião. São mentalidades e formas diferentes de encarar a vela, e que levam a diferenças grandes nos modelos de um continente para o outro: até os Beneteaus feitos nos EUA são diferentes dos europeus.

Para terminar a minha descrição do salão, não posso deixar de falar das inúmeras canas de pesca, barcos dedicados à dita actividade e cowboys... sim, é verdade, foi a maior concentração de cowboys a que assisti desde que estou em Houston (e o rodeo é só para o mês que vem...). Como isto é um estado muito “macho”, a malta gosta de pesca! Portanto, o raio do salão está recheado de canas, coletes e outros apetrechos para a pesca! E chapéus de cowboy, e cowboys, a única desilusão foi não haver caçadeiras, metralhadoras, granadas e outros apetrechos típicos da malta que gosta dos “outdoors” (ou pelo menos que eu associo a esses seres cá por estas paragens). Eu que estava à espera que me oferecessem uma espingarda com o bilhete, e afinal só ganhei uma subscrição a uma revista de vela...

Deixo-vos com uma breve história contada pelo meu instrutor de vela (um verdadeiro castiço texano, que aparecia para as aulas com calções azuis da nike quase pelo joelho, t-shirt branca, meia branca e sapatos de vela...). Parece que ele tem um amigo que tem a mania que é todo macho, e que gostava de dizer que o John (o meu instrutor) era uma “menina”, porque a vela é desporto de meninas, enquanto que a pesca é que é desporto de macho... Consta que um dia, diante de um grupo de amigos, o tal “macho” terá iniciado a sua lenga-lenga, até que o John lhe perguntou (em texano), “ouve lá, quando estão 25 nós de vento, chuva, ondas de 2 metros, onde é que tu estás?” Ao que o outro terá respondido, “estás parvo, estou em casa sentado no sofá!”. O John então terá respondido, “ai é... olha, eu estou no meio do Golfo do México a divertir-me à brava!!!” Pois é meus amigos!!! E querem saber mais... é como a droga... quanto mais vento, mais chuva, mais água salgada a saltar para a cara... MELHOR É A SENSAÇÃO!

Ficam com umas fotos dalguns dos interiores que eu mais apreciei, e de um verdadeiro “cowboy”... certamente pescador, certamente macho... e certamente que fica em casa quando chove e está vento! Eu vou dormir... e sonhar com cascos verdes... 40 e tal pés... sal e vento na cara... oceanos, golfinhos e tartarugas gigantes... e a Tânia a chamar-me maluco! He, he! Nuno, vai poupando dinheiro... "the world's oceans shall be our playground!"

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