Tuesday, December 26, 2006

Dia da Cat Balou

[Só uma nota para esclarecer a escolha do género feminino em detrimento do masculino habitual na língua portuguesa: os anglo-saxónicos referem-se (e bem!) aos barcos como “she”, entendendo que se tratam de fêmeas. Eu, pessoalmente, não posso deixar de concordar! Os barcos despertam paixões, roubam tempo e dinheiro aos homens, conduzem as respectivas famílias ao desespero... portanto, são verdadeiras amantes, GAJAS! Por isso, aquele buraco no mar onde eu enterro o meu dinheiro será daqui em diante, oficialmente, uma gaja, a Cat Balou!]

Este Natal, decidi oferecer uma prenda à Cat Balou! Ela tem estado tão abandonada e só desde a minha ida para Houston, que até parecia mal não lhe fazer uma visita, levá-la a passear, e depois dar-lhe um bom banho! E foi assim que a tripulação habitual da Cat Balou (eu e o Nuno), nos encontrámos para ir dar um passeio no dia 26 de Dezembro, enquanto as respectivas (as “gajas” oficiais), foram ao cinema e às compras, provavelmente dizer mal dos respectivos gajos que tinham ido sair com a amante...

O dia estava magnífico, cheio de sol, vento de aproximadamente 10 nós, e mar completamente chão. Um belo dia para passear no Tejo, esse rio tão especial que me corta a respiração sempre que sobrevoo Lisboa. É curioso, mas sou incapaz de descrever as sensações que sinto a velejar no Tejo... Como por vezes dou por mim a dizer (para irritação de alguns), “há coisas que só quem anda no mar pode compreender!” Há sensações que não se descrevem, vivem-se! Se um barco é uma amante, o Tejo é uma sereia que chama os homens para a eterna perdição... quem me dera velejar, velejar para sempre, partir em direcção a Oeste, em direcção ao pôr do sol, deixando a Torre de Belém e a Ponte para trás... Este chamamento deve ser o mesmo que os grandes navegadores sentiam ao saírem para os Descobrimentos... ou se calhar é apenas a visão de um romântico, enquanto os navegadores diziam para as suas barbas “merda, lá está o Rei com as suas ideias parvas... espero regressar com vida desta vez!”

Desta vez eu e o Nuno conseguimos regressar a horas decentes (para os amantes de terra firme), e poupar as respectivas famílias a ataques de maior... Já que não consigo descrever a sensação de velejar no Tejo, deixo-vos duas músicas:

O Tejo
Madredeus

Madrugada,
Descobre-me o rio
que atravesso tanto
para nada,

E este encanto,
prende por um fio,
é a testemunha do que eu sei dizer.

E a cidade,
chamam-lhe Lisboa,
mas é só o rio
que é verdade,
só o rio,
é a casa de água,
casa da cidade em que vim nascer.

Tejo, meu doce Tejo, corres assim,
corres há milénios sem te arrepender,
és a casa da água onde há poucos anos eu escolhi nascer


Six Months in a Leaky Boat
Split Enz

When I was a young boy
I wanted to sail around the world
That's the life for me, living on the sea
Spirit of a sailor, circumnavigates the globe
The lust of a pioneer, will acknowledge
No frontier
I remember you by, thunderclap in the sky
Lightning flash, tempers flare,
'round the horn if you dare

I just spent six months in a leaky boat
Lucky just to keep afloat
Aotearoa, rugged individual
Glisten like a pearl
At the bottom of the world
The tyranny of distance
Didn't stop the cavalier
So why should it stop me
I'll conquer and stay free
Ah c'mon all you lads
Let's forget and forgive
There's a world to explore
Tales to tell back on shore

I just spent six months in a leaky boat
Six months in a leaky boat

Ship-wrecked love can be cruel
Don't be fooled by her kind
There's a wind in my sails
Will protect and prevail

I just spent six months in a leaky boat
Nothing to it leaky boat.

A Teresa Salgueiro é que tem razão: “A cidade, chamam-lhe Lisboa, mas é só o rio que é verdade...”

No comments: